Wednesday, September 21, 2011

Ambientalista João das Águas aponta soluções para gestão ambiental de Londrina


Em entrevista coletiva, João das Águas explica os problemas ambientais da cidade e apresenta seu projeto Ecometrópole

Ana Luisa Casaroli


João Batista Moreira de Souza, conhecido como João das Águas, em entrevista coletiva na semana passada, expôs as principais questões sobre a gestão ambiental de Londrina. Apesar de o apelido fazer referência direta ao aspecto hidrológico, João é conhecedor dos mais variados temas ecológicos e, nos últimos 20 anos, vem estudando minuciosamente as possibilidades de aplicação prática, especificamente em nossa cidade.
Em julho de 2007, o ambientalista lançou, oficialmente, o Programa Ecometrópole – que, no início, chamava-se Acquametrópole – visando ao debate entre autoridades, especialistas e cidadãos a respeito do manejo sustentável dos recursos naturais. Segundo João das Águas, “nós realmente podemos nos transformar numa Ecometrópole” e é essa causa pela qual ele luta.
A base do projeto consiste na divisão do município londrinense em quatro “microbacias”. De acordo com o entrevistado, trata-se de uma estratégia moderna, a qual confere diferentes tratamentos para cada região, respeitando as peculiaridades de cada uma. “A gestão deve ser feita por ‘microbacias’, pois só assim é possível chegar à casa das pessoas. Não adianta querer despoluir um grande rio sem gerenciar seus afluentes”, ele garante.
Outra justificativa para essa divisão é a maior facilidade na coleta de dados: quantos bueiros, quantas árvores etc.. “Para uma gestão racional, você precisa subdividir a cidade”, reforça.
O ambientalista destaca o potencial de sustentabilidade de Londrina. “Ainda que tenhamos problemas, somos uma das cidades com melhores indicadores ambientais do país”, salienta. Um exemplo da boa administração ecológica de Londrina é a reciclagem. A atuação do Ministério Público, nos últimos anos, retirou centenas de catadores que trabalhavam no lixão. Atualmente, boa parte deles está atuando em cooperativas regularizadas. No entanto, há ainda muito o que fazer. João das Águas explica que, primeiramente, é preciso organizar melhor os grupos de recicladores e, preferencialmente, uni-los para findar as disputas que surgem entre eles.
Além disso, a reciclagem não tem total eficiência devido a erros cometidos pela própria população, durante a separação dos resíduos. Recentemente, João realizou uma experiência num bairro que faz a separação há dez anos. “Recolhi, durante uma semana, o lixo que iria para a reciclagem e logo percebi os erros cometidos pelas famílias. Por conta disso, estimamos que 50% do volume de lixo reciclável ainda não é reciclado. Não há dúvidas de que poderíamos elevar essa porcentagem.”
Outro assunto abordado durante a entrevista é a readequação do sistema de drenagem, isto é, o sistema responsável pelo escoamento da água. “O bueiro é a entrada do rio”, lembra João das Águas. Ele considera um absurdo a cidade não contar com uma equipe de manutenção dos bueiros, uma equipe que se empenhe na prevenção dos entupimentos. Uma das ideias do Programa Ecometrópole, inspirada em modelos de outros países, é o bueiro comprido e com tela. “A tela impede a entrada de resíduos sólidos, mas, para que não se reduza o espaço de passagem da água, o bueiro tem de ser estendido”, explica.
Para o projeto, o ambientalista organizou uma coletânea de 450 mil fotografias sobre variadas situações – problemas e soluções – associadas ao meio ambiente. O desenvolvimento das propostas foi efetivado por meio de pesquisas científicas. Ele destaca que os problemas foram diagnosticados, pesquisas com base em experiências realizadas em outros países também foram feitas, além de uma análise da viabilidade de aplicação aqui em Londrina. “Não é palpite”, afirma.
João não deixou de citar a importância da participação da sociedade. Ele diz que “é preciso chamar o cidadão, aumentar o serviço voluntário”. As atividades recreativas são apontadas pelo entrevistado como uma interessante forma de aproximar as pessoas dos corpos hídricos. Ele exemplificou as 14 cachoeiras urbanas e as belíssimas trilhas com nascentes ainda preservadas. “Você precisa envolver as pessoas; a partir do momento que elas gostarem, elas serão parceiras na luta”, garante João das Águas.


QUEM É JOÃO DAS ÁGUAS:
João Batista Moreira Souza nasceu em Mundo Novo, cidade do sertão baiano. Mudou-se para Londrina há cerca de trinta anos. Em 1987, começou a praticar caiaque no Lago Igapó. Em 1990, inaugurou a Patrulha das Águas, associação de proteção ambiental e ecoesportes. Implantou, aqui, a primeira escola de canoagem do Paraná e, mais tarde, fundou a Federação Paranaense de Canoagem. Seu trabalho o aproximou das questões ambientais, já que vivia diariamente em contato com a poluição das águas. Desde o início da década de 90, passou a se interessar pelo assunto e estudá-lo, como um autodidata. Fundou o Instituto Ecometrópole, em 2007, e integra a ONG MAE (Meio Ambiente Equilibrado).


INFORMAÇÕES:
www.ecometropole.org

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